Orientais e gourmands: de Poison a Angel passando por CK e L’Eau D’Issey

Mais um texto para o UOL, desta vez com um histórico rápido dos perfumes orientais e gourmands, focando nos anos 80 pra cá: Poison, Opium, passando pelos CKs e os Isseys dos anos 90, até desembocar em Angel. Na galeria da página tem a recomendação de alguns vendidos para homens.

 

Homens e mulheres que buscam perfumes sensuais, envolventes e opulentos se deixam e fazem seduzir com a família oriental de perfumes. Esse gênero é definido pelo uso de resinas vegetais, nomes como benjoim, elemi e storax, que contribuem com uma impressão adocicada, às vezes beirando o caramelo, de textura macia e sedosa. Reforçando essa sensação entram especiarias quentes como cravo, canela, às vezes baunilha, incenso. Nos femininos é comum o uso de flores, jasmins grandiosos, tuberosas imponentes, enquanto no lado masculino da prateleira a vida segue sem elas.

Quando a intenção é fazer um perfume de impressão comestível, com notas como caramelo, baunilha, chocolate, algodão doce ou frutas suculentas, o perfume oriental passa a ser chamado “gourmand”. Em francês a “gourmandise” é o pecado da gula, “gourmand” pode ser traduzido como aquele que provoca a gula: são perfumes que atiçam o desejo. As vezes são francamente pesados — sem dúvida são densos e mais confortáveis de usar e de sentir num dia frio ou à noite, o que faz dos perfumes orientais os preferidos da balada.

Essas notas quentes e sedutoras são equilibradas com aspectos cítricos como bergamota, por exemplo, que ajudam a balancear a densidade. É uma família clássica, e talvez o perfume oriental mais antigo em fabricação seja Shalimar, de Guerlain, lançado em 1925, que infelizmente não é vendido no Brasil.

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É um gênero que teve seu auge nos exageros dos anos 80: acompanhando ombreiras épicas e cabelos repicados enormes, é necessário um perfume que ocupe grande espaço. Pense em Dior Poison, Yves Saint Laurent Opium, Giorgio Beverly Hills, todos imponentes, perfumes de decote que fizeram uma geração inteira acreditar que não gostava de perfumes. Nos anos 90 a coisa vai por caminhos mais suaves, aliviando narizes desesperados num movimento pendular. Os dois perfumes demolidores da década, que todo mundo usou ou conhece quem usou, são magrelos e inocentes, e não tem a menor intenção sexual. L’Eau d’Issey, de 1992, é límpido, vítreo e gelado, não tem uma curva onde se pode pegar. CK One, de 1994, cheira ao banal da roupa lavada — sua principal matéria prima é o almíscar sintético, exatamente o mesmo ingrediente que perfuma o sabão em pó e o amaciante de todo o dia. Menos sexy, impossível. Curiosamente CK One explodiu num período que imperava o estilo grunge: camisas de flanela, calça rasgada, cabelo parecendo sujo, como se estivesse sem banho há meses — mas cheirando a limpo.

Também é em 1992 que nascia um perfume na contramão desse estilo magro, que influenciou um mercado inteiro e criou para si a categoria do “gourmand”, que foi extensamente imitado por todas as marcas, inteiramente ou em partes, amado e odiado com a mesma paixão: Angel, de Thierry Mugler, criado pelo perfumista Olivier Cresp.

Thierry Mugler em foto de Jean-Paul Goude

Thierry Mugler em foto de Jean-Paul Goude

No longo e exaustivo processo de desenvolvimento da fragrância, Olivier e a então diretora criativa para os perfumes da marca, Vera Strubi, se viram num beco sem saída criativo. A intenção até aqui era criar um perfume baseado em patchuli e baunilha. Em busca de inspiração, resolvem chamar Thierry Mugler para conversar — Olivier Cresp, em entrevista, conta que “ele veio até mim e ficou três horas no sofá, eu conversando com ele como um psiquiatra, e então contou sobre sua infância na Alsácia. Sobre como costumava mergulhar pão no chocolate quente, e a visita de um parque de diversões na região, com seus vendedores de algodão doce.” O perfumista havia trabalhado na indústria de aromas, a divisão da casa de fragrância que produz essências para bebidas e alimentos, e usou dessa experiência. Além de notas chocolate, cacau e patchouli, Angel faz uso de uma overdose da molécula etil maltol, que é responsável pelo cheiro (e a sensação) de algodão doce do perfume. Após dois anos de ensaios, Olivier Cresp encontrou o equilíbrio ideal, inventando a categoria dos “gourmands” na seção feminina, que abrem caminho para os correspondentes masculinos, tão requisitados hoje em dia.

Na galeria acima, você encontra quinze sugestões de perfumes orientais e gourmands em várias faixas de preços.

 

  • Lucia Rigueiral

    Poison nos anos 80,L’Eau d’Issey e Angel nos anos 90 marcaram épocas!

    • o Poison era demais, eu amava sentir. estou doido atrás de um na versão antiga, só ainda não descobri como identificar um frasco da época.

      • Zucleide Zumba

        Dênis, o perfume Poison é o meu preferido, entre tantos que gosto …

        • Perfume de uma época e cheio de coisa para dizer ainda. Estou procurando um antigo para matar as saudades, minha mãe usou por algum tempo.

  • Isabela Ribeiro

    Desde os 18 anos troquei de perfume diversas vezes, tentando substituir o “perfume adolescente” por algo mais sensual. Esse texto me levou ao Poison (após dois anos de sofrimento, haha) e me deu a identidade que eu estava procurando. Além do aroma fabuloso, a fixação na minha pele foi perfeita.
    Estou apaixonada pelo perfume, sinto como se ele falasse por mim e explicasse quem sou eu. Me sentir tão representada fez cada segundo de busca valer a pena. Obrigada!!

    • Isabela, que demais seu comentário, é bom demais se reconhecer num perfume. O Poison é dos grandes. Que bom que pude ajudar!