Como nascem os perfumes, da idéia para a prateleira — Parte 2, o avaliador

Bernard Chant, perfumista de Aromatics Elixir, Clinique.

Bernard Chant, perfumista de Aromatics Elixir, Clinique.

[Parte 1 – Esta é a parte 2]

Na primeira parte falei da organização da indústria, quem contrata quem na hora de criar um perfume e o que é o briefing. Hoje é o dia de apresentar o avaliador. Ele trabalha ao lado do perfumista e de uma figura de vendas que é responsável pelo atendimento ao cliente.

Se chamarmos o perfumista de “nariz”, como é comum, um termo que não gosto muito porque não inclui o lado mental e criativo do trabalho — não basta ter o nariz em si, sem o cérebro nada se faz –, se pode dizer que o avaliador é um nariz mas não um nariz criador. Ele tem o treinamento técnico ligado a matérias primas mas não participa da criação diretamente, modificando proporções, alterando a fórmula. Ele funciona como um olhar de fora para o perfumista, do alto, entende bastante de mercado e da marca com quem trabalham. Seus comentários estão mais no âmbito da sensação geral, apontando direções para que o perfumista trabalhe usando as ferramentas que domina. Quando a casa de fragrância ganha a concorrência para o lançamento de um perfume, o mérito é dessa dupla.

Imaginei que pudesse existir algum tipo de bonificação específica quando isso acontece, da mesma forma que um vendedor é premiado quando faz a venda. Mas até onde consegui pesquisar existe um bônus anual ligado a performance da empresa, ou seja, um sistema de bônus mais parecido com o de executivos com que o de vendedores.

Na França a formação é na mesma escola que forma perfumistas, chamada ISIPCA (Institut Supérieur International du Parfum de la Cosmétique et de l’Aromatique), que exige uma graduação em química. No Brasil a formação do avaliador é através de treinamento na própria indústria, portanto a parte acadêmica pode variar bastante: administração de empresas, marketing, comunicação, tudo serve. O essencial é a habilidade sensorial e interpessoal, de comunicação, para lidar com a equipe e com o perfumista. O mercado nas casas de fragrância é ainda menor para o avaliador que para o perfumista — são cinco casas de fragrância no mundo, que no mercado brasileiro tem seis perfumistas e quatro avaliadores cada. Sentiu o drama?

[Parte 1 – Esta é a parte 2]
  • Cleide Vieira

    Olá Dênis. Muito legal esta resenha e me fez pensar umas coisinhas, como por exemplo, depois de tanto investimento em notas, aromas, marketing, pesquisa de mercado, etc. etc. qual seria o percentual de acerto nessas investidas. Em outras palavras, há muitos perfumes que são absoluto sucesso de vendas, portanto todo esforço dedicado desde a idéia até o produto final significa que valeu a pena, mas e os que não deram certo? você conhece algum caso envolvendo algum criador de destaque? seria, mal comparando, como um roteiro de filme em Hollywood, milhares de dólares gastos, que se transformam numa película, tapete vermelho no lançamento, mas…. um fracasso de bilheteria. Não caiu no gosto de público!

    Abraços Cleide

    • Cleide, essa história é mais comum do que parece. Se a gente pensar nos clássicos que chegaram até aqui, que resistiram ao tempo, pense também que estavam no mercado ao mesmo tempo e não sobreviveram. Le Feu d’Issey é um de 1998 que me ocorre, mas tem uma infinidade. Mas a história é engraçada, Angel, que é um best-seller e gerou um monte de cópias, só “pegou” nas vendas depois de dois anos de trabalho promocional. E se, apressados com o resultado tivessem parado? Deu no que deu

  • Seis perfumistas só?! Hum, tá explicado. rs

  • Pingback: Como nascem os perfumes, da idéia para a prateleira — Parte 1, o briefing | 1 nariz | blog sobre perfumes e resenhas()

  • Essas suas postagem ampliaram o conhecimento que estava buscando. É um assunto difícil de ser encontrado escrito de forma tão ilustrativa. Tenho que lhe agradecer. Boa sorte.

  • Pingback: Quero ser perfumista, quero fazer perfume: cursos e formação | 1 nariz | blog sobre perfumes e resenhas()

  • luiz franco

    Denis, uma duvida. As marcas mais comuns de venda de essencial,como léssence, vollmens etc… compram as matérias primas dessa 5 grandes mundiais? Onde posso comprar essências de qualidade superior e com garantia de procedência para minha pequena empresa de MKT olfativo?
    Obrigado
    ssquad2@icloud.com

  • Bruno

    Não discordo que o mercado para avaliadores e perfumistas é super restrito, mas seus numeros não estão tão precisos assim. Trabalho em uma das 4 grandes Casas de Fragrâncias e só de cabeça consegui lembrar 8 avaliadores e 6 perfumistas…com certeza estou esquecendo alguns,

    • Bruno, obrigado pela correção. Só para ter o parâmetro, minha informação veio de uma ex-avaliadora da Firmenich, com bastante experiência na área, que ainda segue trabalhando na indústria mas em outro ramo.

  • Thais

    Denis,

    você saberia me dizer se a ISIPCA aceita a graduação em farmácia ?
    Agradeço desde já. Beijos,