Mugler Alien Man é como borrifar um perfume masculino dos últimos 5 anos (qualquer um com frasco azul escuro) num sneaker novinho, com aquele cheiro delicioso de sola de borracha. Se parece esquisito é porque é mesmo.
E aí existem duas reações físicas possíveis aos perfumes excelentes. A primeira é um sorriso espontâneo, como levar um soco no estômago de beleza. É o excelente bonito.
A segunda é tossir, engasgar, soltar o ar pelo nariz com força, para se livrar de tanto horror. E dali 10 minutos você quer sentir de novo — como algo tão ofensivo pôde ser feito? Penso no desperdício de bergamota, os produtores de patchuli trabalhando sob o sol tropical da Tailândia, na logística intercontinental de matérias primas, frascos, válvulas, caixas e do perfume pronto, que borrifei e faço cara de desprezo. E em 15 minutos você quer sentir a fita novamente. E no dia seguinte também.
Algo te prende. Então você diz: “Espera aí”. É o excelente esquisito, que te desafia antes de se entregar. O parágrafo acima conta minha história com Alien Man. Numa genealogia imaginária ele é filho de Gaultier Le Mâle com Dior Sauvage. E neto de Bulgari Black.
De Le Mâle vem a estrutura: acorde masculino em contraste com sensação delicada e feminina. De Sauvage vem o que ficou sendo o cheiro de homem-querendo-ser-notado-como-homem de uma geração: o anis biônico, de impressão sintética e cortante. De Black vem a parte feminina: finamente talcada, macia, refinada, adocicada, com cheiro de borracha. Black faz pensar em borracha por um caminho defumado. Alien Man tem mais cheiro de sola de tênis novo.
Gosto de cheiro de gasolina, de seladora de madeira. Sou fã dessas impressões sintéticas em perfumes — a borracha de Black, talvez meu perfume da vida, o spray de cabelo e as flores de plástico de Gucci Rush, a fita Scotch floral de Comme des Garçons (2011).
Perfume não é imitação da natureza. E ainda bem, porque, no melhor dos casos, só conseguiria ser uma natureza de segunda mão. A natureza está bem sendo ela. Perfume é artifício. Gosto ainda mais quando uma ideia surrada é levada para o espaço por perfumistas muito dos criativos.
Seria meu perfume de balada, como Bulgari Black foi, como YSL Body Kouros foi. Vejo gays usando, vejo héteros com samba no pé usando. Alien Man é dramático, urbano e não é fácil. Recomendo borrifar pouco se estiver curioso mas inseguro. Tem que gostar da doçura e do esquisito. É um grande perfume.