Faz alguns anos eu vi, ou melhor, senti, uma menina usando Poison (Dior) no metrô de São Paulo — ela devia ter 15 anos. Reconheci fácil porque era o que minha mãe usava em noites especiais. Revival noventista acontecendo no banco da minha frente, na linha verde do metrô paulistano.
O que está a venda hoje é uma sombra do original mas serve (ao que suponho que seja) ao propósito da garota. Tem potência — literal e criativa — para dar confiança extra e não é mais um dos gourmands que todo mundo usa. Ou seja, tem valor de descoberta. Aquele perfume meio esquecido na prateleira que ganha vida nova quando passa a ser usado. Parece que Twilly é para as amigas dela: um Poison filtrado para hoje, com algumas colheres daquilo que está rolando no mercado.
A borrifada é o ponto alto, onde aparece todo o drama e complexidade da tuberosa. Está lá a mesma potência floral de Poison só que menos vamp, mais caprichada num frescor de gengibre. E turbinada por matérias primas modernas em overdose, para dar aquela super difusão e um efeito picante no nariz. O final de baunilha cremosa, meio metálico/salgado e ainda picante sampleia Olympéa (Paco Rabanne), para dar uma pista familiar.
Vai soar ruidoso e deselegante para quem fizer nariz de Jardins d’Hermès — a linha fresca e transparente da marca. Me parece que o interessante é esse mesmo: se Poison era dramático e fatal como uma cortina de veludo púrpura, Twilly é mais “para fora”, barulhento, divertido, bagunceiro. Sabe como são os adolescentes, sempre impertinentes.