— Vânia, tem uma amiga sua aqui.
— Quem?
— A Costanza.
— Vem cá — e me pegou pelo braço, puxando pelo salão.
A gente estava no lançamento de Terre de Lumière, novo perfume da L’Occitane. Fomos apresentados — “o Dênis que avalia os perfumes para o Prêmio da Cosmo” — e começou aquele papo amplo de quem está procurando um assunto para engatar.
Ela fala baixo, tem música no ambiente, eu chego mais perto. Costanza vai chegando ainda mais perto. Estica devagar uma das mãos para minha orelha esquerda e, sem perder uma batida do assunto, pega meu brinco, não sinto puxar nem mexer, observa, analisa, não comenta nada sobre ele mas está falando o tempo todo. Tem gente que pode tudo nessa vida. Ela pode. E eu tinha que perguntar:
— Costanza, que perfume você usa?
— O Eau du Soir, da Sisley, que acho que funciona para mim.
Consegui bem mais do que queria, Costanza me contou a própria vida a partir dos perfumes que usou.
— Faz tempo?
— Ah, faz. Eu comecei com Robert Piguet.
— Uau! Fracas? (A sublimação da tuberosa em perfume.)
— Não, não.
— Bandit? (O pai, filho e espírito santo dos couros.)
— Não, era uma coisa levinha, mais tranquila. E aí casei e ganhei Joy, do Jean Patou, do meu marido. Eu fazia um estilo mais perua e funcionava. Quando separei usei Calandre (Paco Rabanne).
— Também super feminino.
— Sim, mas era diferente, era o que tinha de novo na época.
Posso jurar que ouvi ela mesma dizer, em alguma entrevista, que os óculos escuros eram porque os olhos não tinham mais a beleza de antes e tal. Mas ali entendi de verdade: está filmando e registrando tudo que acontece na sala inteira, sem mudar o tom de voz, sem mexer o rosto, sem perder o ritmo.
— Teve um período que usei um do Jean-Louis Scherrer.
Somos interrompidos. Uma, duas, três vezes. Costanza volta de onde parou.
— E no começo dos 90 foi o L’Eau d’Issey. Usei bastante até que umas mulheres esquisitas começaram a usar também — e eu parei. Fiquei um tempão sem nenhum, a maioria me incomoda.
Contou da neta escolhendo perfume em Florença.
— O vendedor borrifava no ar, um em cada corredor, e a gente passava para sentir. No fim ela saiu com um Versace, que eu nunca imaginaria mas ficou muito bom nela.
Uma última interrupção e terminamos assim. Eu queria mais uma hora de papo.