Na primeira temporada de Chef’s Table o chef Dan Barber pede a um agricultor que produza um legume — minha memória me impede de lembrar qual —, que cruze diferentes espécies para chegar no melhor sabor. O fazendeiro se emociona: já tinham pedido legumes maiores, mais coloridos, mais firmes. E nunca mais saborosos. Todo mundo que comprou tomate ou morango nessa vida sabe o que é isso.
A gente já viu alguns momentos na história em que o olfato era central na vida. E com um pouco de atenção percebe como é complicado falar sobre as sensações que o nariz provoca. Mas quando foi que a visão se impôs e deixou os outros sentidos pra trás? Se tem um fator isolado que explique esse movimento, ele é a prensa tipográfica de Johannes Gutenberg, criada nos anos 1430.
Até então não se lia a Bíblia, ela era falada em voz alta. Manuais, enciclopédias, tudo o que era escrito era escrito a mão, num processo lento. A transmissão de conhecimento se dava de forma oral, ao lado de um mestre. A história e o folclore de um povo ou região existiam na memória dos mais velhos e, em alguns grupos, entre poetas profissionais. Agora calcule por alto quantas horas por dia você passa lendo e escrevendo. Até o celular foi melhorado com uma tela.
No século XVIII, com o Iluminismo, a visão recebe o empurrão final. As verdades do universo eram vistas em telescópios e microscópios, o conhecimento registrados em cartas, modelos, diagramas. Ver se torna crer: o Iluminismo jogava luz sobre as estruturas da realidade. E a importância da ciência na cultura, naquilo que se cultiva, aumentava ainda mais a distância entre os sentidos.