Mathilde Laurent não é uma pessoa de flores, declarou em entrevista. Perfumista exclusiva da Cartier, não lhe falta habilidade para tornar a criação de um floral para a casa mais interessante. Ao invés de editar a fragrância no lado bonito, caminho mais fácil e óbvio, resolve incluir a flor toda na foto. E salpicar um nome engraçadinho, Beijo Roubado.
Desde o início ele não engana ninguém, um belo e enorme lírio. Para o caule verde e úmido entra o gálbano, um polígono verde olfativo: é um verde molhado, a borda bem traçada, com uma quina que quase se pode morder. Está mais presente na abertura, úmido e crocante, trazendo a espessura da haste e a carne da pétala. (Dá para isolar mentalmente o gálbano procurando o denominador comum entre Baiser Volé e Chanel Cristalle EdT).
Aparecem ao longo do tempo notas mais leitosas, cremosas, que nos levam ao pólen — e essa é uma das graças da perfumaria, fazer um holograma numa garrafa, conforme você sente, vê o lírio. Depois ganha destaque um acorde cosmético, que lembra cheiro de maquiagem, com seu contorno floral próprio. É a parte menos inspirada, saindo de onde saiu fica um bom degrau mas é uma bela viagem até aqui. Devolve o meu beijo, Mathilde.
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