Essa é a segunda parte da história sobre como Coco Chanel foi passada para trás pelos Perfumes Chanel. Com a invasão alemã em Paris nos anos 40, Pierre e Paul Wertheimer, judeus alsacianos, escaparam para os Estados Unidos. De lá, enviaram um americano a Grasse para garantir a produção de No. 5 durante a guerra. Chanel fechou a loja mas continuou vivendo do outro lado da rua, no Hôtel Ritz, uma das bases do regime alemão.
Hoje, sabendo da colaboração de Chanel com o regime, suspeita já dada por fato nas últimas reportagens, é fácil antecipar o próximo movimento: Chanel denuncia os Wertheimer aos nazistas.
Na imagem: gravura de Andy Warhol.
Mas eles tinham se preparado. Em 1943 a família comprou 50% do fabricante de motores de avião de Félix Amiot, que fornecia para o exército alemão. E transferiram Les Parfums Chanel para Amiot. Os nazistas deixaram a empresa em paz. No fim da guerra, Amiot entregou a companhia novamente aos Wertheimer. Tudo continuava igual.
No início dos anos 50, quando as vendas de No. 5 começaram a diminuir, Pierre Wertheimer fez uma visita a Chanel, então com setenta anos. Em poucos dias ela estava de volta ao endereço da Rue Cambon planejando o relançamento da alta-costura Chanel. Wertheimer entendeu tudo: a alta costura funciona como vitrine para o que existe de mais barato (e fácil de reproduzir) que a companhia vende — roupa pronta, acessórios, perfume. Passada a rejeição inicial, o sucesso crescia a cada coleção, assim como as vendas dos perfumes. É nesta posição que Wertheimer faz uma última oferta a Coco Chanel.
A família pagaria os custos da loja/ateliê/apartamento da rua Cambon, suas despesas pessoais e impostos pelo restante da vida, em troca do controle do nome Chanel para perfume e moda. Após sua morte, os Wertheimer também receberiam todos os lucros pelos perfumes — Chanel não tinha herdeiros. Pouco depois, compraram os 20% da companhia da família Bader. Quando Chanel morreu no hotel Ritz, em 1971, os Wertheimer se tornaram os únicos donos da empresa, e ainda são até hoje.