Fato: a gente é desconectado do olfato

Quem está lendo sobre perfume sacou que existe muito vocabulário para o olfato. A gente pega emprestado palavras da música, cores, o perfumista da Hermès já contou no seu Diário de um Perfumista, agora traduzido, que prefere as do tato. Pensando nas nossas expressões de dia a dia — ficar de olho, visão de mundo, fazer vista grossa, bom te ver —  é bem evidente que sentido predomina na nossa vida. Parte da graça do que a gente faz aqui, juntos, é se dar conta de um mundo olfativo que estava aí o tempo todo, mas nunca viu (ops).

A tribo dos jahai, nativos da Malásia, tem tantas palavras específicas para cheiros quanto o inglês tem para cores. O dificuldade em nomear cheiros não está no nariz, está na língua. Nativos de Andamã, na Índia, os ongee não dizem como vai, mas “como vai o seu nariz?” Nesta cultura o odor é considerado a força vital que mantém o sentido do universo — quando vão se referir a si mesmos, os ongee apontam para o próprio nariz. A dificuldade também está no papel que o olfato tem na cultura.

É fácil viver numa espécie de pobreza sensorial, especialmente do olfato. Não que falte estímulo, falta atenção. Você alimenta seus sentidos com regularidade? Dá atenção ao que sente, ao que come, ao que ouve? Ou melhor ainda, procura estímulos interessantes para seus sentidos e os consome com consciência? Tem um mundo de sutileza, de beleza, no nosso cotidiano.

Imagem: Saul Steinberg with nose mask, Irving Penn